Bugalho — Marco Pestana — Vasco Rézio — COSMOS.CAC - 21 Julho de 2021
Marco Pestana e Vasco Rézio partilham um interesse comum pela exploração de elementos da natureza campestre, numa prática semi arqueológica que percorre as formas grisalhas dos troncos mortos ou vivos, que decoram as paisagens quentes do nosso país.
Vasco Rézio apresenta sobretudo esculturas que nos remetem para o silêncio de um campo de verão. Formas inóspitas e secas, envolvidas de movimentos captados noutros meios visuais como a gravura.
Marco Pestana foca-se na natureza, na viagem e na memória. Ciclista ávido, apresenta no seu trabalho uma reunião de registos nostálgico dos caminhos que percorre pelo campo. Desenvolve uma prática monocromática de impressão em tela, a que junta diversos elementos como a madeira e pequenos artefactos que colecciona.
O Bugalho nasceu como caroço em pele irritada. Provocado pelo ataque da vespa, gritou tão alto que explodiu numa excrescência lá no alto do carvalho. Como caroço em pele irritada. Contava o Bugalho que se afligia com tais comparações - ele era caroço, ele era bolota... Quando, afinal, qual Viriato, ele era resistência, guerreiro-feroz, natureza viril perante investidas externas. Bugalho-viriato protegia o carvalho-lusitânia dos ataques nervosos de legiões de vespas, moscas e demais bicharada. E ainda ousavam confundi-lo com alho!
Irritado, sempre irritado - como caroço em pele irritada - repelia o depósito onde habitavam pequenos vermes bárbaros, gritava, bradava, e explodia em raiva. Até à criança... A criança apareceu, trepou o carvalho, esticou a mãozinha, agarrou o caroço - perdão, o Bugalho - e puxou.
Texto: Camila Lobo
Curadoria/produção : João Ramos