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Cinema no Cosmos — Carolina Miragaia e Rodrigo Miragaia COSMOS.CAC - 1 MAIO DE 2022
 

Passagens são sessões que têm como objetivo apresentar o trabalho de cineastas emergentes residentes em Portugal em conversa com o seu trabalho noutros dispositivos visuais. A visão deste projeto passa por criar condições para que os artistas e coletivos possam desenvolver e apresentar o seu trabalho de forma livre, recorrente e com condições que lhe permitam evoluir num ecossistema de partilha e numa ótica de exercício. Foca-se a importância da experimentação e apresentação fora dos espaços institucionais existentes que muitas vezes não lhe são alcançáveis.

A nossa proposta explora a figura do cineasta como artista multidimensional, convocando-o para uma sessão assente em três medias distintos: uma mostra de curtas-metragens autorais; uma exposição/instalação e a edição de uma publicação. A ideia passa por desafiar os convidados a transcenderem-se, explorando outros media, de forma enquadrada com a temática da proposta inicial para sessão de cinema.

Este projeto é um diálogo entre dois artistas, de duas gerações diferentes, com uma relação emocional: pai e filha. É uma “colaboração” de vinte e um anos, de aprendizagem mútua. O interesse de ambos em explorar a matéria do vídeo levou-nos aos sistemas de baixa fidelidade onde o ponto, a unidade, o pixel ganha uma vidaautónoma e crepita como uma labareda. Cria-se assim uma dupla leitura entre a coisa representada, algo devedora da iconografia punk, e a imagem enquanto construção artificial, agora sintetizada através da tecnologia digital. Duma forma geral, é evidenciado o microcosmos do sistema, o submundo, o ecossistema urbano da cave imunda. De uma forma específica, trata-se de uma instalação constituída por 4 projeções de vídeo em loop, que estabelecem entre eles um discurso anacrónico em função do próprio espaço da galeria. Os vídeos sugerem uma ciclicidade, ou circularidade do tempo. Intervalo é aqui interpretado no sentido que lhe dava Aby Warburg quando, no seu atlas Mnemosyne, correlacionava imagens livremente, estabelecendo aquilo que chamou uma iconografia do intervalo, mas é também o intervalo de gerações, um salto, um período ou uma brecha no tempo. É neste registo que vimos propor uma experiência em que o cruzamento de universos poéticos sugere uma reflexão acerca das nossas semelhanças na forma de o sentir: ora como um movimento oscilante; ora como uma contemplação meditativa. O projeto pode mesmo constituir-se como uma alegoria à passagem do tempo: uma imagem que nunca se concretiza completamente; um castelo que se dissolve permanentemente na desilusão; um vislumbre que se acende e apaga num ritmo intermitente, num clarão luminoso momentâneo.

 

Filme apresentado: 
Apresentação de 6 curtas;

Instalação - 4 videos, 1 peça sonora ;

Lançamento de uma zine dos artistas.

Curadoria/produção: João Ramos 






 

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